Coordenador do Sinasefe critica uso da pandemia como laboratório para o ensino e trabalho remotos

 Coordenador do Sinasefe critica uso da pandemia como laboratório para o ensino e trabalho remotos

Na última terça-feira, 5, a Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm) promoveu a live “Trabalho e ensino remoto nas universidades”, com mediação de Laura Fonseca, presidenta do sindicato. Participaram do evento: David Lobão, coordenador geral do Sinasefe Nacional; Rivânia Moura, presidenta do Andes-SN; Vânia Helena Gonçalves, coordenadora geral da FASUBRA e do SINTUFSCar; Kardilândia Mendes, diretora de Formação e Política Sindical da Atens-SN e vice-presidenta do Atens-UFPB; Ariel Lucena, vice-sul da UNE; e Josiel Rodrigues dos Santos, diretor de políticas de emprego da ANPG.

Em nome do Sinasefe, Lobão deu ênfase ao papel que o trabalho remoto cumpre em meio à pandemia: evitar que alunos e professores sejam expostos ao vírus. Contudo, ainda que a suspensão da presencialidade seja essencial para achatar as curvas de contágio e mortes por Covid-19, o dirigente destaca que o ensino e o trabalho remotos não permitem o efetivo exercício de uma educação de qualidade.

“[O trabalho e ensino remotos] não podem ser colocados como a solução, como algo positivo para a educação brasileira. […] Uma coisa é a necessidade de preservar vidas, recorrendo ao trabalho remoto; a outra é a sede daqueles que pensam em educação como mercadoria e querem tirar proveito da situação para começar a construir um processo lucrativo. Então aquele governo que não se propõe a investir na educação de forma séria, vê no trabalho remoto uma perspectiva de economia dos seus investimentos”, pondera o dirigente.

A respeito dessa questão, Lobão informou que algumas instituições de ensino estão tentando regulamentar o trabalho remoto para além do período pandêmico, tornando-o um modelo de ensino permanente. Ao salientar que o Sinasefe encara tal investida  como um desserviço muito grande, o dirigente expôs uma série de complicações que docentes enfrentam no ensino remoto.

“Muitas vezes, levamos três ou quatro horas para colocarmos naqueles dez minutos de aula todo o processo de construção do que queremos passar para o aluno. E a compra de aparelhos, de câmeras, de computadores, tudo isso passa longe do Estado. O servidor começou a gastar do bolso dele pela necessidade de ter um conjunto de instrumentos que ele não tinha na sua vida cotidiana. Um exemplo simples disso: todo mundo teve que melhorar a internet da sua casa”, comenta.

Consequências de um ensino remoto não planejado

Rivânia Moura, presidenta do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), trouxe para o seminário dados acerca do trabalho e ensino remotos, levantados por pesquisas feitas em instituições e seções sindicais de todo país:

‘’As pesquisas têm apontado, em geral, para um processo mais profundo de adoecimento docente e também discente, e de precarização das nossas condições de trabalho. […] Têm apontado para uma sobrecarga maior de trabalho no ensino remoto, porque a gente acaba sendo dominado pelo processo da tecnologia e é como se todas as nossas horas do dia fossem pautadas pela nossa carga horária, nosso trabalho. […] E isso recai muito mais sobre as mulheres, porque o retorno para dentro de casa também traz para elas outra sobrecarga de funções sociais que são, historicamente, a elas atribuídas”, explica.

A evasão escolar foi outra questão abordada por Rivânia, que comentou sobre um estudo do IPEA, de setembro de 2020, segundo o qual seis milhões de estudantes brasileiros não tinham acesso à internet naquele momento. E complementou:

‘’Em fevereiro de 2021, o DATAFOLHA divulgou que 4 milhões de estudantes abandonaram os estudos no ensino remoto. Isso não pode ser desconsiderado a algo menor, a último plano; isso tem que estar como algo principal, que é o nosso compromisso com a informação, com os estudantes.’’

Kardilândia Mendes, que falou em nome da ATENS-SN, trouxe à discussão sua preocupação com a saúde mental dos servidores no retorno ao presencial, e questionou: ‘’Será que o governo federal está preocupado com a volta dos servidores? […] Porque nós temos vários funcionários e professores com depressão, por conta da falta de contato. Há várias nuances com relação ao trabalho remoto. E o que o governo federal está fazendo para que esses professores tenham assistência, por meio de psicólogos, psiquiatras e médicos?”.

Quem perdeu a live ao vivo, pode assisti-la acessando aqui.

Próximo evento

A live dessa terça-feira foi a segunda etapa do seminário “Trabalho e ensino remoto na UFSM”, dividido em quatro partes. A primeira foi realizada dia 23 de setembro e discutiu os desafios do trabalho e ensino remoto na UFSM, com participação do Tesoureiro Geral do Sinasefe Santa Maria, Cláudio Kelling.

A próxima live ocorrerá no dia 14 de outubro, às 19h, e abordará “O processo de trabalho docente na pandemia da Covid-19”. A transmissão ocorre ao vivo pela página de Facebook e pelo canal de Youtube da Sedufsm.

Texto: Laurent Keller

Edição: Bruna Homrich

Laurent Keller

Estudante de jornalismo.

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