1º dia do CONSINASEFE debate enfrentamento a violências contra minorias sociais

 1º dia do CONSINASEFE debate enfrentamento a violências contra minorias sociais

“Que possamos sair mais humanizados e humanizadas do que chegamos”.

Foi assim que Márcia Kambeba iniciou sua fala na mesa de abertura do 34º Congresso do Sinasefe (CONSINASEFE). Pesquisadora indígena, doutoranda em Estudos Linguísticos pela UFPA, escritora, compositora, educadora e palestrante de assuntos indígenas e ambientais, ela usou seu espaço para comentar sobre as atrocidades recentes cometidas contra os povos indígenas brasileiros, a exemplo do ataque à comunidade Yanomami, em Roraima, onde uma ação criminosa, possivelmente efetivada por garimpeiros, incendiou uma aldeia da tribo Yanomami, deixando pelo menos 25 indígenas desaparecidos/as até o momento.

A mesa da tarde desta quinta-feira, 12 de maio, marcou a abertura do 34º Congresso, que se estende até o domingo, 15, em Brasília (DF), com a participação de centenas de delegados/as e observadores/as advindos das mais diversas regiões do país. Intitulada “A Luta Sindical e o Combate às Opressões”, a mesa teve, além de Márcia, a presença de mais três debatedoras.

A segunda foi Vilma Reis, socióloga, feminista, mestra em Ciências Sociais, doutoranda em Estudos Étnicos Africanos no PosAfro-FFCH-UFBA, filha do Terreiro do Cobre, defensora de direitos humanos, ativista do Movimento de Mulheres Negras, abolicionista penal, co-fundadora da Coletiva Mahin Organização de Mulheres Negras para os Direitos Humanos e, através da Coletiva Mahin, constrói a Coalizão Negra por Direitos.

“Nossa saudação a todos os núcleos de estudo afro-brasileiros e indígenas! Quero saudar os NEABIs espalhados pelo país. Cada professora, cada professor e cada técnica e técnico carregam consigo uma revolução: somos trabalhadoras e trabalhadores que combatem o racismo diariamente”, destacou Vilma, reforçando a importância do debate antirracista e feminista nos eventos sindicais.

Outro aspecto salientado em sua intervenção foi o cenário de precarização vivenciado pelas técnicas e técnico-administrativos em educação, bem como por diversas escolas.

“Nós chegamos e no território onde chegamos, atuamos. Em várias escolas em que trabalhamos não existe um refeitório, não foram escolas pensadas para a população pobre!”, refletiu Vilma. “Os técnicos das instituições estão procurando outros empregos por causa dos baixos salários: precarizados de todo o mundo, uni-vos!”, concluiu.

Combate ao assédio é pauta central

Terceira palestrante da mesa, Laurenir Santos Peniche é mestra em Comunicação e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama), musicóloga e pesquisadora da música paraense e seus principais autores, professora de Artes e Relações Etnicorraciais, dirigente do Sinasefe IFPA, ETRB e Ciaba-PA, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do IFPA, e presidenta da Comissão de Heteroidentificação do IFPA. Em sua avaliação, a denúncia e o enfrentamento ao assédio e às violências das mais diversas matizes devem ser preocupações centrais e permanentes do Sinasefe e de suas seções sindicais.

“O sindicato é para lutar pelas causas de trabalhadoras e trabalhadores, não para preparar campanhas para dirigir campus. Os sindicatos devem estar a serviço da categoria […] Temos muitas tarefas pela frente, como por exemplo coibir os assédios e as violências que sofremos no cotidiano das nossas instituições. Essas pautas interferem todos os dias em nosso trabalho, não são ‘periféricas’, como alguns tratam”, perspectivou a palestrante.

Envolvida diretamente com os debates e as mobilizações etnicorraciais, ela defende ser necessário desconstruir o eurocentrismo cultural, responsável por privilegiar as manifestações culturais da branquitude. Outro eixo de sua intervenção foi a luta pela garantia de 50% de vagas para negras e negros em um curso de pós-graduação no IFPA.

Dando sequência à mesa “A Luta Sindical e o Combate às Opressões”, composta exclusivamente por mulheres, a palestrante Carolina Iara provocou as e os presentes a refletirem sobre a relação intrínseca entre a luta de classes e as lutas antirracista e anti machista.

“Não podemos naturalizar a morte de mulheres trans e negras, essa questão é de classe também: são trabalhadoras precarizadas que estão nas ruas e em trabalhos perigosos. Não existe luta de classe sem a devida luta antirracista e luta anti machista”, comentou.

Co-vereadora pela Bancada Feminista do PSOL em São Paulo-SP, cientista social, travesti, negra, intersexo e soropositiva, a quarta palestrante do dia elenca uma tarefa prioritária para o próximo período: “Precisamos deixar um legado melhor para quem vier depois de nós, precisamos jogar Bolsonaro na lata de lixo da história”, finalizou Carolina.

Após a mesa de abertura, ocorreu a Plenária “Regimento Interno e Código Eleitoral”.

Nesta sexta, o 34º CONSINASEFE segue, com apresentação das teses de Conjuntura e de Educação, grupos de trabalho e inscrições das chapas que concorrerão à diretoria nacional, ao Conselho Fiscal e ao Conselho de Ética.

*Imagens: Sinasefe

Bruna Homrich

Notícias Relacionadas