UFSM busca mitigar efeitos das chuvas, mas estudantes sofrem
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) possui o campus sede, em Camobi, e mais três unidades: Cachoeira do Sul, Palmeira das Missões e Frederico Westphalen. Dessas quatro unidades, os campi de Santa Maria e de Cachoeira foram os mais atingidos pelas fortes chuvas que atingiram o RS entre os dias 29 de abril e 1º de maio.
Além dos danos físicos, que geraram infiltrações em prédios, inclusive na fiação elétrica, os e as estudantes estão na ponta mais frágil de toda essa situação caótica que levou à reitoria da instituição a suspender as atividades acadêmicas presenciais e remotas por um período ainda não definido e, conforme a Administração Central, baseia-se no decreto de Estado de Calamidade do Rio Grande do Sul.
O pró-reitor de Infraestrutura, professor Mauri Löebler, explica que os campi de Cachoeira e Santa Maria foram os mais afetados, mas que o de Cachoeira, por ficar numa região mais alta, teve seus maiores problemas vinculados às infiltrações no telhado.
No que se refere a Santa Maria, Mauri diz que o campus sede teve dois prédios com entrada de água. Um deles é o da própria Reitoria, onde a água chegou a inundar o Departamento de Arquivo Geral (DAG), os transformadores de energia e a Editora. O outro local foi o subsolo do prédio 44C, onde fica o Centro de Ciências Rurais (CCR).
Afora isso, ressalta o pró-reitor, o restante esteve relacionado a muitas infiltrações pelos telhados, que extrapolaram, segundo ele, “além daqueles crônicos no campus da UFSM”. Sobre as soluções para esses problemas e prazo, afirma Mauri, há uma dependência de dois fatores básicos: tempo bom e a disponibilidade de empresas especializadas. Em relação ao segundo fator, ele pondera que muitas dessas empresas estão envolvidas em resoluções de situações ligadas aos efeitos da catástrofe climática.
Número de estudantes afetados vem aumentando, diz DCE
O Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFSM avalia que os problemas maiores foram nas moradias estudantis. Conforme as respostas encaminhadas pelo DCE, através da integrante da diretoria, Carol Vargas, após as fortes chuvas, no dia 2 de maio, foram convidados a participar de uma vistoria, junto com Proinfra e Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE).
Essa inspeção acabou sendo realizada nos blocos 50s, 30s, Casa do/a Estudante Indígena e mais alguns apartamentos que os/as moradores/as haviam relatado problemas à Diretoria da Casa (CEU). Nessa visita, afirma o DCE, foi possível identificar que todos os prédios estão com problema no telhado. Na maioria dos apartamentos, destaca a entidade, o último andar tinha infiltração na instalação elétrica.
Imagem do campus sede da UFSM, no auge das chuvas fortes
Nessa primeira vistoria, explica o Diretório, foi listado o número de 31 estudantes afetados. Entretanto, na semana passada, em nova inspeção, esse número sofreu alteração. Segundo o DCE, pelo menos 50 estudantes foram diretamente afetados pelas fortes chuvas.
Os representantes da entidade estudantil comentam também que estão disponibilizando um formulário virtual para que os/as estudantes possam responder questões acerca dessa problemática. Até sexta, 10 de maio, já haviam pelo menos 500 preenchimentos desses formulários. O DCE também está empenhado em uma campanha de arrecadação de doações, as quais serão destinadas com prioridade para estudantes mais carentes.
Reivindicando mais assistência
A reportagem pediu uma avaliação do DCE sobre o trabalho de amparo da universidade a quem foi atingido. Conforma a entidade estudantil, para aqueles/as que tiveram seus apartamentos atingidos com entrada de água, inclusiva na fiação, foram oferecidas opções de ir para a União universitária, buscar um pouso solidário ou mesmo transferir-se para a casa de algum familiar.
Em reunião com a PRAE, integrantes do Diretório afirmam terem reivindicado um plantão para manutenção e um outro para a saúde nas moradias estudantis, com diversos profissionais, mas que quanto a isso, ainda não há retorno da gestão. “Até onde sabemos, a UFSM está com um projeto de auxiliar estudantes, mas até o momento não temos nada de concreto”, afirma o texto do DCE.
Retorno às aulas e medidas necessárias
Questionado sobre o retorno das aulas, o entendimento do Diretório Central é de que “não basta as chuvas pararem e as águas baixarem pra que as aulas voltem, pois muitas famílias perderam tudo e vão demorar muito tempo para se recuperarem. Muitos estudantes ainda estão presos nas suas cidades e sem internet”. Em função disso, argumenta o DCE, “achamos que tudo deve continuar sendo tratado como calamidade por um tempo. Precisamos de medidas efetivas do governo para a reconstrução do estado e a UFSM deve reestruturar o calendário acadêmico, prevendo o adiamento das entregas, provas e bancas de TCCs, para que nenhum aluno saia prejudicado”. (*)
Em relação às medidas que precisariam ser tomadas pela instituição, o DCE avalia que, em um primeiro momento “a UFSM precisa dar um acolhimento para os estudantes, principalmente para aqueles que sofreram neste período. Depois disso, garantir um acompanhamento psicossocial para estes estudantes, visto que esta calamidade foi extremamente traumatizante”.
No que se refere a estudantes das Casas (CEUs) que tiveram perdas, especialmente nos apartamentos, o Diretório defende que “a UFSM deveria dar um amparo e um auxílio”. Para o DCE, é urgente que a gestão da universidade “invista mais nas CEUs, pois com esta calamidade vimos que é necessário investir na infraestrutura dessas moradias”.
(* Nota: Sobre a questão das aulas, a reitoria- Prograd junto com a de Pós-Graduação, de Extensão e mais a coordenadoria de Educação Básica, Técnica e Tecnológica- da UFSM divulgou a Instrução Normativa nº 05/24, de 9 de maio, em que suspende as aulas presenciais e remotas no campus sede e no de Cachoeira do Sul.)
Casa do Estudante é prioridade, afirma a PRAE
A pró-reitora substituta de Assuntos Estudantis (PRAE), Cassiana Marques da Silva, explica que assim que os problemas surgiram após as fortes chuvas que atingiram a UFSM, os órgãos responsáveis, com equipe técnica, foram acionados para verificar a situação na moradia estudantil.
Em relação à sugestão do DCE de que seria necessário um plantão de manutenção, Cassiana responde que isso já existe. E acrescenta que, em meio a esse tipo de calamidade, a Casa do Estudante é uma prioridade. No que se refere ao pedido de um plantão também para a atender a saúde desses estudantes, a pró-reitora substituta afirma que foi pensada a criação de uma força tarefa nessa área, ideia inviabilizada, segundo ela, em função da greve de servidores/as.
Todavia, a gestão da UFSM ainda busca a construção de alternativas. Cassiana explica que a UFSM tem um projeto de extensão chamado ‘SOS Comunidades’, com cerca de 350 voluntárias de diversas áreas. “Vamos articular com eles essa questão da assistência psicossocial”, frisa ela. E complementa: “Estávamos em quatro pessoas trabalhando no caos. Depois chamamos mais quatro colegas que não estavam em greve. Agora estamos em oito pessoas para dar conta de tudo”.
Texto: Fritz Rivail e Laurent Keller
Fotos: DCE/arquivo pessoal