FÓRUM POPULAR DA CIDADANIA
Passadas as eleições majoritárias de 1994, enquanto o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso começava a organizar seu ministério, já ficava evidente que o movimento sindical e popular do Brasil seria seriamente afetado pela implantação de políticas neoliberais, reclamadas pelas classes dominantes nacionais, em consonância com a maré neoliberal que se alastrava pela América Latina.
Há apenas dez anos, os movimentos sociais brasileiros saíam de um largo período de dificuldades de organização, pressionados por uma Ditadura Militar que não via com bons olhos qualquer tentativa de organização da sociedade civil.
Sociedade civil que, num movimento quase espontâneo, conseguiu se mobilizar e propor o impedimento do primeiro presidente eleito após a ditadura militar, Fernando Collor de Mello. Esse foi substituído pelo vice-presidente Itamar Franco, que conclui o mandato, elegendo Fernando Henrique Cardoso por larga vantagem e apoio popular, ancorado pelo sucesso do plano de estabilização da economia, que criou a moeda REAL.
Entre o final do ano de 1994 e o início de 1995, parcela importante do movimento sindical e social da cidade de Santa Maria resolveu constituir uma entidade que seria a coordenadora das atividades de discussão, debates, organização e lutas contra a onda neoliberal que atingia o Brasil e a maioria dos países americanos, ameaçando direitos conquistados pelas classes populares, direitos esses acumulados por décadas de lutas.
Participavam das atividades do Fórum as seguintes entidades: SINDIÁGUA, Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação, ASSUFSM, SINPRO, CPERS-SINDICATO, Sindicato dos Bancários, SINPROSM, SINDISERF-RS, SEDUFSM, SINDSEPE, SINDISPREV, Sindicato dos Metalúrgicos, SENERGISUL, Sindicato dos Rodoviários, Sindicato dos Correios, Sindicato da Construção Civil, SETURH, Sindicato dos Comerciários, Associação de familiares de portadores de necessidades especiais, associação de aposentados, associações de moradores, eventualmente o MST, ou outras entidades que buscavam apoio para suas reivindicações.
A socióloga Maria da Glória Gohn, em ‘Teoria dos Movimentos Sociais’, assim se refere sobre tais movimentos: “nós os vemos como ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas”.
Foi assim, com a intenção de empreender ações coletivas de caráter sócio-político e cultural que surge o Fórum Popular da Cidadania, agrupando entidades sindicais e populares, que sentando à mesma mesa passaram a conciliar demandas, aflições e capacidades de resistência, acumulados nos diferentes enfrentamentos a que eram submetidas.
A organização era horizontal, não havia presidência, nem hierarquia. As reuniões ocorriam todas as segundas-feiras, às 18 horas, no auditório da Seção Sindical dos Docentes da UFSM, sendo que a coordenação dos trabalhos era escolhida democraticamente entre os representantes de entidades presentes.
Sob a inspiração dos debates ocorridos no interior do Fórum Popular da Cidadania, muitas ações foram empreendidas, tais como: convocação de atos públicos, passeatas, participação em eventos em outras cidades, etc.
Uma das mais importantes discussões havidas no Fórum foi sobre a democratização dos meios de comunicação de massa. Os representantes das entidades sindicais e populares tinham consciência do monopólio exclusivo exercido pelos grandes veículos de comunicação e da manipulação de informações que isso representava.
Afirmavam os membros do Fórum que sabiam ser impossível constituir um veículo de comunicação capaz de concorrer com os grandes veículos, mas sim iniciar um trabalho que disseminasse, em cada comunidade, um meio de comunicação alternativo, que fosse capaz de respeitar a cultura e peculiaridades locais, podendo assim, no futuro, constituir-se uma rede de pequenas rádios comunitárias, que poderiam repercutir as opiniões dos membros de cada comunidade.
Em agosto de 1996, é criada uma Comissão Provisória composta por: Paulo Roberto Tavares, membro do Sindicato dos Bancários, Jorge Nascimento, membro do Sindicato dos Radialistas, e Milton Ferrari, membro do Sindicato dos Servidores Federais do RS, para discutir e propor a criação de uma Rádio Comunitária.
Nos dias 16 e 17 de dezembro de 1996, foi organizado pela Comissão Provisória, no Auditório da Câmara de Vereadores, um Seminário sobre Rádios e TVs Comunitárias.
No dia 23 de dezembro de 1996, no auditório da SEDUFSM, foi constituída a Associação Cultural de Difusão Comunitária de Santa Maria – ACDC, cuja atuação deveria dirigir-se à propagação do ideal de comunicação comunitária, tentando obter o apoio para a criação de legislação que permitisse o funcionamento de emissoras de rádio nas pequenas comunidades, como bairros, vilas, ou localidades rurais.
Procedeu-se também a algumas experiências com radiodifusão, as quais contaram com a construção por um técnico, de uma estação de rádio FM, que funcionou em estágio experimental, porém como não havia legislação que autorizasse seu funcionamento, a rádio da ACDC jamais funcionou em caráter permanente.
Aos poucos, em vista das dificuldades enfrentadas pelas entidades sindicais e populares no enfrentamento às poderosas forças do capital, o Fórum Popular da Cidadania foi perdendo a sua vitalidade, e após aproximadamente dois anos de atividade, foi encerrado.
No entanto, como muitas entidades sindicais eram membros da CUT e sob a bandeira dessa Central, continuaram na defesa dos interesses dos trabalhadores e das entidades populares, e o Fórum Popular da Cidadania ficou como exemplo de iniciativa que pode ser retomado quando a classe trabalhadora se der conta da necessidade de união de forças na luta por seus direitos.