Funcionalismo prepara possível greve geral para fevereiro

 Funcionalismo prepara possível greve geral para fevereiro

“É uma falta de respeito com o conjunto do funcionalismo”. Foi assim que Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), definiu, em entrevista ao jornal Correio, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de conceder reajuste salarial apenas aos agentes federais de segurança, enquanto 80% dos servidores e servidoras amargam salários congelados desde janeiro de 2017.

A resposta do funcionalismo, alerta o dirigente, tende a ser a construção de uma greve: “essa indignação vai se transformar em ação com o movimento paredista […] a intenção é de que a gente sinalize, já para o mês de fevereiro, uma greve geral do funcionalismo por tempo indeterminado”, complementou.

Ele ainda explica que, desde março de 2021, os servidores e servidoras vêm solicitando ao governo a abertura de um processo de diálogo e negociação. Contudo, após todo esse tempo, o governo, através do Ministério da Economia, segue em silêncio. “Então, lamentavelmente, tem um lado que quer dialogar, que são as representações do conjunto do funcionalismo, mas o governo não quer diálogo, não quer conversa”, diz Silva, para quem falta disposição política do Executivo em negociar com os trabalhadores e trabalhadoras do setor público.

Frente a esse cenário, no último dia 29 de dezembro, o Sinasefe reuniu-se com entidades como o ANDES-SN, a Fasubra e o Fórum Nacional de Entidades de Servidores (Fonasefe) para debater a construção de uma greve do funcionalismo público ainda para este primeiro trimestre de 2022.

Na ocasião, o coordenador geral do Sinasefe, David Lobão, argumentou que “todas as servidoras e todos os servidores públicos estão com a perda salarial alta. A maioria está sem reajuste desde 2017, com perdas que ultrapassam 50%. Nós achamos que todos nós merecemos a reposição salarial, queremos que seja para todos e todas, porque nós sofremos com inflação”.

Mobilização

As categorias começam a reagir. Auditores fiscais vêm intensificando a operação-tartaruga no porto de Santos, o principal do país. Além de reposição salarial, os servidores da Receita pedem a regulamentação do chamado bônus de eficiência e a abertura de concursos públicos para reposição de pessoal. Segundo o Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita (Sindifisco), o órgão perdeu cerca de 50% de seu efetivo de auditores nos últimos dez anos. O Banco Central também apresenta reivindicação semelhante, e seus funcionários têm intensificado a pressão pelo reajuste e por reposição de vagas. 

Para Rudinei Marques, presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), se o governo federal seguir sem qualquer pretensão de dialogar e ouvir as reivindicações dos servidores e servidoras, “não nos resta alternativa senão parar o país”. Ele explica que as mesas de negociação permanentes entre sindicatos, associações e Executivo, existentes desde 2003, foram extinguidas quando teve início o governo Bolsonaro, deixando o funcionalismo sem qualquer instância a que pudesse recorrer.

“Por parte do governo, o que a gente vê são promessas reiteradas do ministro Paulo Guedes de retomada econômica, e nada disso acontece. No nosso entendimento, não acontece porque os salários foram aviltados no Brasil, não só no setor público. Mais de 70 milhões, hoje, estão no desalento, desemprego ou informalidade, isso em função da reforma trabalhista que empurrou milhões para a informalidade. A retomada da economia não acontece, e uma das razões é essa. Sem dinheiro, não há economia que se recupere. É o dinheiro no bolso do trabalhador que faz girar a roda da economia. Os servidores têm de se mobilizar, assim como a iniciativa privada também”, defende Marques.

Bruna Homrich

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