Por que as mulheres ainda precisam do 8 de março?

 Por que as mulheres ainda precisam do 8 de março?

Com origens nos movimentos operários femininos de 1908 e oficializado na década de 70 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o dia 8 de março é considerado Dia Internacional da Mulher. Inicialmente, a data era marcada por reivindicações por igualdade salarial, direito ao voto e melhores condições de trabalho para as mulheres. Entretanto, por quais motivos, mais de 100 anos depois do início do movimento, ainda é necessário que essa data exista?

A resposta é simples: apesar dos muitos avanços ocorridos nas últimas décadas, as desigualdades no mercado de trabalho continuam presentes e se somam a outras pautas fundamentais à luta feminista, como: o combate à violência de gênero e ao machismo, bem como a defesa de pautas dos movimentos negro e trans, que se interseccionam ao feminismo.

A realidade feminina mercado de trabalho

Dados da pesquisa Women in Business revelam que a paridade de gênero cresceu no mercado de trabalho em 2021, com 31% das mulheres ocupando cargos de liderança, o que representa 2% a mais que o ano anterior. No entanto, embora esse avanço tenha ocorrido, ele não se reflete nos salários, uma vez que as mulheres ganharam 20,5% menos que os homens no último ano, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). E no caso das mulheres negras, a diferença é ainda maior: o IBGE de 2019 revelou que um homem branco ganha mais que o dobro que uma mulher preta. Nesse ritmo, demoraríamos mais 267,6 anos para alcançar a equidade salarial, segundo a Global Gender Gap Report 2021.

Contribuindo para o desestímulo das mulheres no ambiente de trabalho, o assédio é outro fator que se destaca. Ao menos 52% das mulheres afirmam já terem sido assediadas no trabalho, e 46% relatam situações de constrangimento e preconceito em processos seletivos por ser mulher, de acordo com levantamento realizado recentemente pela plataforma InfoJobs.

Nessa mesma pesquisa, a maioria das entrevistadas contam que nunca trabalharam em uma empresa comandada por uma mulher e 28% revelam dificuldades de ascender profissionalmente. Para mulheres trans, o cenário é ainda pior, porque a grande maioria não encontra oportunidades nem de ser aceita em uma vaga, fazendo com que muitas recorram até mesmo à prostituição para sobreviver, já que o mercado formal se nega a inclui-las.

Em outros casos, a dificuldade de ascensão também está conectada aos contratempos de ter que conciliar emprego com a vida pessoal. Historicamente, as mulheres são postas como responsáveis por cuidar dos filhos e das atividades domésticas sozinhas, enquanto o homem pode se dedicar exclusivamente ao trabalho. Felizmente, nos últimos anos tal assunto tem sido discutido, permitindo avanços na divisão das tarefas. Contudo, o machismo enraizado há séculos ainda retarda esse progresso: conforme pesquisa feita pelo IBGE em 2015, as mulheres gastam 26 horas semanais em trabalhos domésticos, ao passo que os homens ocupam somente 11 horas de suas semanas com isso.

Governo Bolsonaro e seus obstáculos à luta feminista

Para além de tantos entraves enfrentados pelas mulheres, as brasileiras ainda têm que combater os empecilhos promovidos pelo governo vigente, como por exemplo: a tentativa de Bolsonaro de barrar a distribuição gratuita de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade, ou então, o corte de R$89 milhões da verba de combate à violência contra mulher para 2022.

Piorando a situação, destacam-se também as diversas falas machistas do presidente, proclamadas sem nenhum pudor em frente à imprensa, como “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade” e “ela não merece (ser estuprada) porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque não merece”.

Esses são apenas alguns exemplos da postura adotada pelo governo, que com suas ações se põe, claramente, contra a luta feminista. Por isso, é importante que continuemos lutando diariamente pelos direitos das mulheres e não deixemos que esse governo diminua nossa força!

Texto: Laurent Keller

Revisão: Bruna Homrich

Laurent Keller

Estudante de jornalismo.

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