UFSM é pioneira na construção de uma política de gênero no ambiente universitário
Ao final de junho, a UFSM inaugurou dois espaços voltados para promoção de acolhimento, orientação e dignidade social para comunidade LBGTQIA+ e para mulheres: a Casa Verônica, que deve disponibilizar serviços de Direito, Psicologia e Assistência Social a vítimas de violência de gênero; e o primeiro banheiro inclusivo do Colégio Politécnico, local destinado ao uso de todos e todas, independente de sua identidade de gênero.
Ambos os lugares atendem à Resolução N. 064/2021 da Universidade, relativa à Política de Igualdade de Gênero que, por meio de iniciativas institucionais, busca atenuar preconceitos e desigualdades relacionadas a essa questão.
A Casa Verônica recebe o nome de uma importante figura para a comunidade LBGTQIA+ de Santa Maria. Verônica Oliveira, também conhecida como Mãe Loira, possuía uma casa de acolhimento para pessoas da comunidade vítimas de intolerância e discriminação, até 12 de janeiro de 2019, quando foi assassinada a facadas no centro da cidade, por conta da LGBTQIA+fobia. Em homenagem a ela, o Observatório de Direitos Humanos (ODH), da Pró-Reitoria de Extensão (PRE), criou a Casa Verônica, localizada na Biblioteca Central da UFSM, sala 204.
De acordo com a professora do Colégio Politécnico da UFSM e Coordenadora do Fórum de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres de Santa Maria, Laura Cortes, a Casa seguirá os passos da Mãe Loira, recebendo essa população invisibilizada e culturalmente posta em condição de subalternidade. Para ela, ‘’a Casa Verônica representa um espaço de acolhida, que dá visibilidade para momentos de muita fragilidade, que são as situações de violência. Representa uma conquista dessa população que está à mercê de uma cultura patriarcal.’’
O espaço tem como objetivo se tornar um centro de referência articulado politicamente não somente para mulheres e comunidade LGBTQIA+, mas para todo público interessado, segundo a responsável pela administração da Casa e da implantação da Política de Gênero, Bruna Denkin. Em sua visão, a discussão de temas ligados a gênero, à diversidade, à sexualidade e aos direitos humanos precisa contemplar toda sociedade. Por isso, serão desenvolvidas rodas de conversa e leitura que permitam a discussão desses assuntos na Casa Verônica, promovendo assim atividades proativas, além das iniciativas de acolhimento. Tais ações seguem os três eixos de ação pensados pela política de igualdade da UFSM: educação, responsabilização e assistência, que trabalharia mais especificamente com a questão da orientação jurídica e psicossocial. Para isso, devem ser contratados psicólogos, advogados e assistentes sociais em até dois meses, para que o local comece a funcionar.
Bruna reconhece a importância de espaços como esse dentro de uma universidade pública: ‘’a Casa e a política de igualdade de gênero em uma universidade como a UFSM representam uma conquista para a comunidade acadêmica, [especialmente] em um cenário em que a gente vê tantas violências. Pensar uma política pública para isso significa que a universidade está explicitando a importância de olhar para essas questões e tentar promover mudanças.’’
Primeiro banheiro inclusivo do Colégio Politécnico
No último dia 30 de junho, o Colégio Politécnico adotou outra nova medida em prol da igualdade de gênero: implementou o primeiro banheiro inclusivo da instituição, situado no bloco E. O espaço pode ser utilizado por qualquer pessoa, independente de sua identidade de gênero. A ideia segue o Artigo 29, presente na seção III, Eixo 3 da Resolução citada anteriormente, e colabora para que todos se sintam respeitados e contemplados no seu ambiente de ensino, em especial, pessoas trans.
A Secretária Geral do Sinasefe e docente do Politécnico, Cláudia do Amaral, comenta estar contente com a iniciativa, apesar de ainda haver muito progresso a ser feito em relação às pautas de gênero e sexualidade no contexto das universidades federais: ‘’o banheiro demonstra democracia e cidadania. Todos e todas dentro da universidade têm que ser respeitados dentro das suas particularidades. […] Tem muita coisa [para resolver], mas acho que nós estamos caminhando em busca de uma melhor inserção e inclusão.’’
Em consonância à fala da Secretária, Laura Cortes acredita que a comunidade acadêmica ainda precisa prever avanços no que tange à equidade de acesso aos cargos de gestão universitária, como as chefias de departamento que são, em maioria, ocupadas por homens cis. Contudo, reforça que os avanços da UFSM são significativos e dão à instituição o reconhecimento como uma das primeiras universidades do sul do Brasil, possivelmente do país como um todo, a concretizar uma política de gênero.
Para quem ficou interessado em obter mais informações sobre a Casa Verônica, logo serão criados uma página oficial do espaço e um perfil no Instagram.
Texto: Laurent Keller
Revisão: Bruna Homrich
Fotos: UFSM