Violência contra as mulheres e comunidade LGBTQIA+ em debate no Sinasefe

 Violência contra as mulheres e comunidade LGBTQIA+ em debate no Sinasefe

Na manhã deste sábado, 20 de agosto, as participantes do 3º Encontro de Mulheres do Sinasefe acompanharam a mesa temática “LBTQIA+ e cultura sindical: o (não) lugar na política”, cujas palestrantes foram a militante LGBTQIA+, professora de Sociologia do IFCE (campus Canindé) e integrante da diretoria colegiada do Sindsifce, Jennifer Karolinny Araújo Dantas (Jenni Dantas); e a doutoranda em Educação na UERJ e membro da Associação Nacional de Pessoas Trans e Travestis (Antra) e da Rede Campanha Pelo Direito à Educação, Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior (Sara Wagner York).

De início, Sara Wagner contou brevemente sua história, destacando a importância da ADI 4275 (mudança de nome e gênero). “Minha função aqui é mesmo essa, trazer incômodos e provocar debates”, comentou.

Já Jenni Dantas ressaltou a importância de uma mesa temática como essa estar sendo realizada no Sinasefe. “Isso aqui é parte da construção de um novo paradigma sindical, e somos nós quem estamos fazendo isso”, disse, rememorando a realização do 1º Encontro de Mulheres do SINASEFE em 2018, quase 30 anos após a fundação do sindicato nacional.

Durante a atividade, Sara entregou simbolicamente para o SINASEFE, por meio da coordenadora geral Elenira Vilela, o Dossiê “Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2021”, do qual ela mesma é uma das organizadoras. A publicação traz dados assustadores acerca da violência de gênero, em especial aquela que acomete a população LGBTQIA+.

“É urgente traçar estratégias de fortalecimento das instituições de luta pelos direitos das pessoas LGBTQIA+, a proteção de defensores de direitos humanos, e pela garantia da sobrevivência de nossa comunidade em governos patriarcais, machistas e contrários aos direitos das mulheres e das pessoas LGBTQIA+. Sobretudo quando o país vive o maior êxodo populacional de sua história, com índices alarmantes de empobrecimento, desemprego, inflação e instabilidade econômica e política. Pois se torna muito difícil a luta contra a violência e às violações de direitos humanos quando estes vêm sendo impactados por fatores sociais”, destaca trecho do Dossiê, que está disponível para download aqui.

Do Luto à Luta

A outra mesa temática ocorrida na manhã deste sábado, durante o 3º Encontro de Mulheres, abordou os diversos tipos de violências às quais as mulheres são cotidianamente expostas.

“Violências contra as Mulheres – do Luto à Luta” trouxe, como debatedoras, a professora associada do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará, Raquel Dias Araújo; a professora, cofundadora e vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina Barbosa; e a professora do departamento de Psicologia Clínica da UnB e autora de artigos e livros no campo da Saúde Mental, Gênero e Interseccionalidades com raça e etnia, Valeska Zanello.

“Com exceção das zonas de guerra, a América Latina é considerada o local mais perigoso do mundo para mulheres”, lamentou a secretária geral do SINASEE, Rita Gil.

“Tudo que passamos e enfrentamos foi muito orquestrado para nos eliminar, mas não funcionou, pois estamos aqui!”, defendeu Regina. Ela fez a leitura da descrição do atendimento de emergência após a tentativa de feminicídio que Maria da Penha sofreu, em 29 de maio de 1983. “A Lei Maria da Penha é uma lei para todas as mulheres e é muito importante que saibamos como lidar com as ameaças que chegam até nosso conhecimento”, destacou a palestrante. Cabe lembrar que, recentemente, tal Lei completou 16 anos de existência.

Ao saudar as mulheres que tornaram possível a realização do Encontro, Raquel disse saber o que é vivenciar a política machista e racial no interior dos sindicatos e partidos, algo que dificulta a participação das mulheres – e especialmente das mulheres negras – nestes espaços.

“Nossa história no âmbito do movimento sindical é contada muitas vezes pelo homens, e pelos homens brancos”, lamentou a palestrante. Raquel também lembrou a prática ruim de restringirem as temáticas das falas de mulheres nos eventos sindicais. “Sabemos falar sobre todos os temas, não apenas sobre nós mesmas!”, destacou.

Abordando as chamadas tecnologias de gênero, Valeska comentou as histórias da “Bela e a Fera” e da “Pequena Sereia”, usadas para objetificação das mulheres, e a pornografia para os homens. “Aprendemos que precisamos ser desejadas e nos objetificamos na prateleira do amor, terceirizamos a nossa autoestima”, explicou a palestrante. Ela indicou a leitura de vários materiais reunidos na página de seu grupo de pesquisa.

Em sua intervenção, ela comentou sobre como o dispositivo amoroso e romântico demanda a despersonalização de mulheres.

“Para que voz se você tem quadris? O homem abomina tagarela, garota caladinha ele adora”, diz uma personagem de filme usado pela psicóloga para exemplificar o tema.

“Vivemos numa cultura que desresponsabiliza os homens e hiperresponsabiliza as mulheres e isso tem sérias consequências”, destacou Valeska. Comentando as masculinidades, ela contou a história do quadro que ilustra a capa de seu livro, quando sua avó pintou uma araucária para disfarçar um buraco e evitar problemas com o marido. “Precisamos parar de tapar os buracos dos homens e querer transformar os ‘perabados’, como se fosse tarefa das mulheres fazer os homens mudarem”, defendeu.

O 3º Encontro de Mulheres do Sinasefe teve início na última quinta-feira, 18, e se estende até este domingo, 21, em Fortaleza (CE). Representando o Sinasefe Santa Maria participam do evento a coordenadora geral, Miriane Fonseca, e a secretária geral, Cláudia do Amaral.

Créditos das imagens: Sinasefe

Bruna Homrich

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