Uma década após o incêndio da Boate Kiss, a meta é ”construir a memória” em torno do trauma
Entre os dias 25 e 28 de janeiro, ocorreram diversas atividades em Santa Maria para marcar os 10 anos do incêndio da Boate Kiss, que ceifou a vida de 242 pessoas e deixou outras 636 feridas. A fim de não deixar que a história se apague, ao longo da programação aconteceram apresentações artísticas, intervenções, vigília e palestras sobre a tragédia. Inclusive, houve um painel com a autora do livro ‘’Todo dia a mesma noite’’ e consultora criativa da série da Netflix de mesmo nome, Daniela Arbex, e com o diretor da série documental do Globoplay ‘’Boate Kiss – a tragédia de Santa Maria’’, Marcelo Canellas.
A programação dos atos foi elaborada pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), pelo coletivo Kiss: que não se repita e pelo Eixo Kiss do Coletivo de Psicanálise de Santa Maria. E contou com o apoio da Prefeitura de Santa Maria, da TV Ovo, da Sedufsm, do Diretório Central dos e das Estudantes (DCE) da UFSM, da CORSAN, do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Santa Maria e Região (SEEB) e do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS).
”Por que contar essa história 10 anos depois?”
Este foi o questionamento que conduziu a palestra, realizada durante a noite do dia 27, com Daniela e Canellas, mediada pelo presidente atual da AVTSM, Gabriel Barros. A escritora do livro sobre a tragédia explica que retomar o assunto é fundamental, porque é por meio da memória que novas tragédias poderão ser evitadas: ‘’a arte tem um papel fundamental na forma de a gente perpetuar e eternizar a nossa história.’’
Canellas expôs também sua visão acerca da importância de se falar sobre o incêndio da Kiss: ‘’enquanto o Estado e a sociedade brasileira não romperem com essa tradição de jogar as responsabilidades para baixo do tapete, a gente está passível de cometer mais erros’’, comenta o diretor da série documental acerca do desfecho inesperado do julgamento dos acusados da tragédia, que foi anulado. Para ele, a não condenação dos réus representa a história do Brasil, que tradicionalmente não defronta suas dores, permitindo que a porta para novos erros continue aberta.
O que será feito a partir de agora?
Ao encontro dessa ideia de manter o ocorrido na memória, para que se continue a busca por justiça, o Prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB), anunciou antes da palestra que, ainda em 2023, o plano de construção do memorial em homenagem às vítimas começará a ser desenvolvido. De acordo com o gestor da cidade, o espaço será feito no local onde a Boate funcionava, a partir do que, segundo ele, será a desconstrução dos destroços e a ‘’construção da memória’’.
Apesar de não haver uma data definida para o começo da obra, Pozzobom assinou no evento um termo de compromisso com a AVTSM de que a construção será iniciada neste ano.
Texto: Laurent Keller
Imagens: Laurent Keller e AVTSM
Edição: Bruna Homrich