Reitor suspende votação sobre novas formas de ingresso na UFSM

 Reitor suspende votação sobre novas formas de ingresso na UFSM

Graças à mobilização do movimento estudantil, social e sindical, foi suspensa a votação que definiria se a UFSM retoma o vestibular e o processo seletivo seriado, ou se segue 100% SiSU. Em princípio, a resolução que regulamenta as formas de ingresso nos cursos de graduação da UFSM deveria ser votada nesta quinta-feira, 30 de março, em reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), contudo, frente à mobilização que adentrou a Sala dos Conselhos, o reitor Luciano Schuch adiou a sessão.

O documento em análise determina que, para além do Sistema de Seleção Unificado (SiSU), a Universidade adote como forma de ingresso o Processo Seletivo Seriado (PSS) e o vestibular presencial. A discussão sobre o tema já havia sido adiada frente a um pedido de vista do DCE, e, até o momento, não há previsão de nova data para retornar a discussão no CEPE. Contudo, frente à mobilização, foi convocada para às 15h30 da próxima segunda-feira, 3 de abril, no Gabinete do Reitor, uma reunião sobre a volta do vestibular. Devem participar do encontro estudantes, docentes e técnico-administrativos em educação.

Conforme já era indicado pelo Plano de Gestão atual da UFSM, que propõe a revisão dos meios de ingresso e permanência dos estudantes, o Reitor Luciano Schuch se mostrou favorável à proposta, que em nenhum momento foi bem recebida pelos grupos de representação dos estudantes e servidores. Como forma de demonstrar suas indignações, os manifestantes gritavam em coro “não é mole não, vestibular é processo de exclusão” e “quem diria, vestibular só agrada à burguesia.”

De acordo com Schuch, é necessário alterar a forma de ingresso na Instituição para tentar amenizar a evasão dos acadêmicos ao longo do curso, que em 2019, último ano antes da pandemia do coronavírus, foi de 19,12%, segundo dados do Observatório de Evasão – CPD  da UFSM.

Contudo, para um dos líderes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Luiz Boneti, é contraditório afirmar que o problema da permanência estudantil decorre do tipo de ingresso na UFSM. Para ele, existe uma série de motivos relacionados à precarização da assistência estudantil que refletem nos números de evasão, sendo que nenhum deles diz respeito ao momento de entrada dos calouros: “a evasão não pode ser simplesmente justificada pela falta de identificação com o curso, porque não é um fator objetivo, já que depende de uma série de condições que atingem as e os estudantes de forma subjetiva. […] Essa crise é essencialmente econômica, os cortes nos orçamentos de bolsas de estudo e demais setores refletem na evasão. Por isso sempre alertamos que a precarização da educação pública é um projeto. A precarização no ENEM, aliada ao caos gerado no SISU em meio ao governo Bolsonaro, foi intencional, e visava justamente a enfraquecer esse Sistema dentro das Universidades, para que buscassem medidas internas, como Vestibular e Processo Seletivo Seriado (PSS)”.

Boneti também reforça que, quando ainda existia o antigo vestibular da UFSM (até 2015), tomou-se a decisão de destinar 100% das vagas para o SiSU para que o acesso ao ensino superior fosse democratizado, permitindo que alunos de todo o Brasil tivessem direito a concorrer a uma vaga na Federal de Santa Maria. Tal medida, em conjunto com a implementação da Lei de Cotas, diversificou o perfil dos estudantes, acabando com a característica elitizada da Instituição: “no vestibular, assim como no PSS, a Universidade voltava seus esforços a garantir um acesso restrito no que tange à concorrência, já que abarcava apenas estudantes da região, contemplando, em especial, alunos mais ricos, com condições de fazer cursinhos e, assim, atingir as maiores notas”, destaca o representante do DCE. Essa elitização faz com que a UFSM perca sua característica de Universidade Federal, que deve se comprometer com o ingresso de estudantes não só da região central do Rio Grande do Sul.

Somado a isso, a Secretária Geral do Sinasefe, Cláudia do Amaral, acredita que, com as mudanças estabelecidas pelo Novo Ensino Médio, estudantes de escolas públicas ficam em desvantagem ainda maior em relação aos alunos de colégios particulares. Isso porque, atualmente, na maior parte das instituições de ensino públicas, os estudantes estão sendo direcionados para algum itinerário específico, deixando de receber conteúdos da base geral, especialmente em disciplinas como filosofia, história e geografia, enquanto colégios mais estruturados conseguem ofertar adequadamente todas as áreas. “Portanto, fazer processo seriado não seria justo para esses estudantes que não vão ter acesso a todos os conteúdos da base. Então, enquanto essa política estiver vigorando, é injusto processo seriado e até mesmo vestibular”, conclui Cláudia.

Entenda a proposta da reitoria

A Resolução em discussão propõe que uma parcela das vagas seja destinada para o SISU, outra para o PSS e outra para o vestibular, conforme indicado abaixo:

  • Ingresso para o segundo semestre de 2023 feito 70% pelo SiSU e 30% pelo vestibular (a ser realizado em julho de 2023);
  • Ingresso para o primeiro semestre de 2024 feito 70% pelo SiSU e 30% pelo vestibular (a ser realizado em janeiro de 2024);
  • Ingresso para o primeiro semestre de 2025 feito 70% pelo SiSU e 30% pelo vestibular (a ser realizado em janeiro de 2025);
  • Ingresso a partir do primeiro semestre de 2026 feito 30% pelo SiSU, 30% pelo vestibular (a ser realizado em janeiro de 2026) e 40% pelo PSS (que terá a primeira etapa realizada em janeiro de 2024, a segunda em janeiro de 2025 e a terceira em janeiro de 2026).

A medida determina também que haja processos seletivos específicos para quilombolas, pessoas com mais de 60 anos e atletas de alto rendimento. Confira aqui outras especificações propostas pela Resolução.

O que deve acontecer agora?

Com a suspensão da votação, uma nova data para definir se a Resolução será ou não aprovada deve ser divulgada pela Gestão da UFSM. O Sinasefe, bem como as demais entidades representativas da UFSM, seguirá lutando por melhores condições de permanência estudantil, pela democratização do acesso ao ensino superior e para que seja ampliado o debate com a comunidade sobre a pauta.

Texto e imagens: Laurent Keller

Edição: Bruna Homrich

Laurent Keller

Estudante de jornalismo.

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